Avaliação laboratorial da resistência à aspirina
O termo resistência à aspirina tem sido utilizado para descrever a ocorrência de evento cardiovascular apesar do uso regular de doses recomendadas de aspirina como prevenção secundária ou primária em pacientes de alto risco. O termo mais apropriado seria ausência de resposta ao tratamento, visto que existem múltiplas potenciais causas de falha ao tratamento com aspirina. Os mecanismos para resistência à aspirina não estão totalmente estabelecidos e a origem é quase sempre multifatorial, uma combinação de fatores clínicos, biológicos e genéticos afetando a função plaquetária (1).
Para se evidenciar a resistência à aspirina através de exames laboratoriais, existem alguns testes possíveis. O teste padrão-ouro é a agregometria óptica, que mensura a inibição da COX-1 pela aspirina. A determinação pode ser feita também pela medida de tromboxane-B2 no soro ou medida dos níveis de 11-dehidrotromboxane-B2 urinário, entre outros testes. A prevalência de resistência à aspirina definida pelos diferentes testes variou amplamente nos vários estudos reportados. Quando foi utilizado o teste padrão-ouro, agregometria óptica, a prevalência foi de 0,4% a 9%. Ao se utilizar outros testes de menor acurácia, a prevalência foi maior, chegando a 35% (2).
Há, também, evidências de que a dose de aspirina afeta os resultados dos testes de resistência à aspirina, indicando aumento de prevalência de resultados positivos quando utilizado doses menores deste medicamento. Devido às implicações terapêuticas, estudos adicionais são necessários para determinar se a resistência à aspirina é ou não dose depentente.
Outro fator que demonstrou elevada influência na detecção de resistência à aspirina foi a não aderência ao tratamento. A conclusão dos autores que estudaram a resistência à aspirina e sua relação com a não aderência ao tratamento, é de que resistência à aspirina é muito incomum em pacientes aderentes à medicação. Faz-se necessária a realização de estudos para avaliação de resistência à aspirina em pacientes nos quais a aderência ao tratamento tenha sido documentada por mensuração dos níveis séricos de salicitato (2).
Os estudos de desfechos clínicos, até o momento, são limitados por motivos diversos como amostragem pequena, definições variadas para resistência à aspirina, problemas ligados ao delineamento dos estudos, controles inadequados e fatores de confusão. Numerosos testes, com variadas metodologias, sensibilidades e especificidades, foram utilizados para testar a agregação plaquetária. A aplicação clínica da resistência à aspirina necessitará de estudos maiores, definindo resistência antiplaquetária utilizando ensaios consistentes e reprodutíveis, correlacionando os resultados com desfechos clínicos e demonstrando alteração de desfecho relacionado à modificação na estratégia terapêutica, como aumento da dose do agente antiplaquetário, adição ou substituição por um segundo agente (3).
Até o presente momento, não há evidências baseadas em literatura para se recomendar a monitorização laboratorial com teste de resistência à aspirina, como também não há evidências para se recomendar alteração na estratégia terapêutica baseada nos resultados de testes diagnósticos revelando resistência à aspirina (1).
Bibliografia
1. Charles H Hennekens, Donald Cutlip, James L Zehnder. Nonresponse and resistance to aspirin and clopidogrel. Disponível em: http://www.utdol.com/online/content/topic.do?topicKey=platelet/7837&view=print.]
2. James E. Dalen. Aspirin Resistance: Is it Real? Is it Clinically Significant? The American Journal of Medicine(2007)120,1- 4.
Nenhum comentário:
Postar um comentário